domingo, 24 de outubro de 2010

Uma história de amor

1938. Munique (Alemanha).


Phillip estava na praça principal do seu pequeno bairro a observar as belas flores que cobriam as árvores como se as quisessem proteger. Os pássaros chilreavam numa leve melodia.


Ele era judeu, tinha 20 anos e, por conseguinte, apenas estava interessado e concentrado em aproveitar a vida ao máximo, não pensando, assim, em coisas menos importantes, como o seu namoro pouco sério com Ann, uma rapariga do bairro de baixo.


Ela, também judia, tinha 19 anos, sendo uma figura esbelta, os seus louros cabelos dançavam com um simples toque de vento, aparentando serem ondas do mar que, com uma fina cobertura de ouro, eram calorosamente preciosas. Ela, também pouco se importava com a sua relação com Phillip, considerava que ainda tinha bastante tempo para se preocupar com isso.


Já havia decorrido alguns anos desde que Adolf Hitler chegara ao poder total.


Mais anos se passavam, as rosas do jardim de Ann desabrochavam, prevendo tempestades. Uma rude brisa trazia o boato de que judeus começavam a ser perseguidos e capturados.


Certo dia, Phillip lanchava calmamente, quando a sua porta de casa foi brutalmente arrombada com um pontapé. Militares gritavam palavras que ele não percebia, apenas entendeu, que o seu vizinho do lado, Frank, 0 tinha denunciado pelo grave crime de ter nascido judeu.


Foi levado para um local triste, escuro. A Morte saltava de ramo em ramo, principalmente à noite, quando não havia sons.


Eram obrigados a trabalhar duramente, todos os dias, mesmo quando a saúde ou a saudade de entes queridos não o permitiam.


Todos os judeus capturados eram colocados em pequenas instalações, sem qualquer tipo de higiene, o que mostrava a impiedosa crueldade com que os "nazis" tratavam estas pessoas.


Phillip sentia-se encurralado, olhava para as feridas que tinha ao longo do corpo, lembrando-se de toda a sua vida, procurando razões para merecer tal sentença.


Ele estava em Auchwitz, campo de concentração que tinha como objectivo levar todos os judeus que para lá iam ao cansaço físico e mental, até que desejassem a sua própria morte. E quando isso não acontecia, utilizavam variados métodos para a chacina.


Certa noite, deitado na suja cama que exalava tristeza, Phillip pensava em Ann, recordava-se dos momentos em que sentia paz, em que o sol iluminava as nuvens, dizendo-lhes para se libertarem da vida, aproveitando o belo momento que é o "agora".


No dia seguinte, estava ele a carregar uma bigorna que ocupava todas as suas forças, quando o seu olhar se cruza com um conhecido, era Ann. 0 seu coração ficou dividido. Bateu rapidamente num agitado compasso de saudade, mas ficou fora de si por compreender o perigo em que sua amada se encontrava. Pânico envolveu o seu corpo, como se de um parasita se tratasse.


Eles agora entendiam o erro que tinham cometido ao não aproveitar os bons momentos, quando podiam estar juntos e não estavam. Naquele instante percebiam que se amavam verdadeiramente.


Ann e Phillip estavam fracos, mal alimentados, e o facto de mal se verem, piorava as coisas. Os seus quartos eram muito afastados, mas mesmo que não o fossem, havia sempre um guarda que não os deixava sair daquela prisão desumana.


Já se tinham passado alguns meses desde que o casal chegara ao campo, mas naquela manhã eles receberam uma notícia trazida pelo sombrio director de Auchwitz: iriam poder tomar banho. Seria o primeiro desde que ali estavam, dando uma réstia de esperança de que conseguiriam limpar as mágoas.


Finalmente algo de bom acontecera. Era como se de um milagre se tratasse. Ann encontrou Phillip no meio da multidão. Os seus olhos azuis brilhavam, e nas suas lágrimas escorria a alegria do amor que ansiava que a água caísse pelos chuveiros.


As câmaras de gás eram um método comum utilizado nos campos de concentração para a chacina. Libertavam um gás letal à inalação. Em cada utilização, eram mortos mais de seiscentos judeus. Estas câmaras eram semelhantes a chuveiros.


Frederico Castro nº 9 11º B