Vieste em bicos de pés. Não fizeste barulho e abriste a porta do meu quarto. Eu estava lá; estranhei-te. Quem eras tu? O que e que estavas ali a fazer? Deixei estas perguntas no ar, fechei o livro que estava a ler e sentei-me na cama. Fiquei a olhar para ti, tu não disseste nem uma palavra e sentaste-te ao meu lado.
Esperei que falasses, mas continuavas sentada na minha cama a olhar para o meu quarto, para a desarrumação, para os livros que eu tinha amontoados na minha secretária, olhaste para tudo.
Finalmente ouvi-te: "olá", disseste. Na verdade fiquei estupefacta, não sabia o que dizer. Permaneci paralisada. Repetiste: "olá ... ". Acabei por te responder, amedrontada, com a mesma palavra de três letras que havias pronunciado. Sorriste e eu retribui.
Calámo-nos, mas olhaste para mim e li nos teus olhos que não tinhas aparecido por acaso, eram tão transparentes ...
E eu pensava: "quer dizer, entrou no meu quarto, sentou-se na minha cama, disse-me olá e olhou para mim? Que estranho.". Foste-te embora e disseste que irias estar sempre comigo. Tive uma sensação de alívio, de segurança, mas de medo ao mesmo tempo. Quem serias tu?
Pensei muito nisto. Contei este episódio ao meu diário, mas como de costume, nem comentou.
Levei, de facto, dias e dias a pensar nisto, até que, estranhamente, começaste a fazer parte da minha vida. Inseri-te em todas as minhas atitudes. Acalmaste-me, sem te aperceberes .
Apliquei na minha vida essa tua entrada silenciosa no meu quarto e realmente alcancei a ideia de que fizeste exactamente o que os amigos fazem quando entram na vida de alguém. Não avisam, entram e sentam-se ao nosso lado. Olham à volta, averiguam, olham para nós e dizem-nos "olá" da maneira mais simples, mas mais tocante do mundo. E mesmo isto! Descobri o que me quiseste transmitir!
Escrevi uma história sobre isto, e na história tu não tens nome. Decidi que te ia dando nomes à medida que fosse vivendo, mas não te chateies comigo, pode ser? Vou dar-te os nomes certos, acredita em mim !
Agora que entraste no meu quarto, que me disseste "olá" e que antes de ires embora disseste que irias estar sempre comigo, peço-te para voltares a entrar no meu quarto. Senta-te ao meu lado, olha para mim e conta-me uma história. Prometo que quando acabares de a contar, damos um abraço, mas por favor, fica sempre comigo como disseste e não abras a porta do meu quarto de novo, para te ires embora. Está corrente de ar, sabes? E o mundo lá fora assusta-me.
Madalena Parreira Cano de Carvalho e Meneses 11º A
(Texto a ser corrigido pela autora)