Era uma vez,
era uma vez duas pedras e uma cana….
Eu, pedra que sou, fui
capturada na minha gruta, no mato. Quando aquele caçador, um autêntico animal
da pré-história, me capturou, reparei
que já tinha capturado outra pedra e uma cana em forma de lança. Esta pedra
apresentava uma diferencia em relação a mim, esta pedra era branca e eu preta.
O nosso contraste de cores causou-nos um grande problema, pois toda a gente
sabe que uma pedra preta não grama uma pedra branca. Enfim, parecíamos pedras
da calçada, sempre a guerrear. Os humanos não sabem, mas quando saltam pedras
da calçada, é porque houve uma guerra racista entre pedras pretas e pedras
brancas. Bem, mas à parte disso, também tínhamos semelhanças - somos ambas
irregulares e ambas temos bicos por todo o lado.
Quanto à cana, um dia decidi meter conversa com ela e perguntar-lhe
para que é que servia antes de
sermos raptadas por aquele ser rude. Então, ela contou-me que vivia ao lado
duma árvore, naquele mesmo mato onde eu tinha sido colhida, e lhe tinha servido de apoio, em pequena,
no tempo em que era uma estaca. E
pronto, ficámos a falar durante algum tempo. À medida que me fui aproximando da
cana, percebi que ela tinha muitas farpas e que era uma má cana.
Coitada de mim, eu tão sossegadinha no meu sítio e o maldito do homem raptou-me.
É preciso ter azar e estar num dia mau!
Um dia, já farta de ser
refém, suicidei-me, atirando-me de um muro de um metro e meio, e pronto,
acabou-se o sofrimento.
Lourenço Tamen 9º4ª nº15